Olho-me no espelho e vejo a inconstância do meu lirismo anatômico e ideológico. Já não sou o que era ontem. A beleza não é a mesma, mas ainda cintila em meus olhos. A feiura não horripila mais do que o mundo lá fora. Mudaram-se as ideias, as paixões, as certezas e as decisões. Mudaram-se todos. Todos mudaram. Não reconheço mais essa gente que me rodeia. Não me reconheço mais...
O que me apetece? A velhice. A minha e a do mundo. Tudo que é novo é uma derivação de algo velho, que já existe há milênios. Nada me surpreende. Quem é velho não pensa no próprio futuro. Pensa no futuro do outro e se preocupa com seus erros, pois já errou demais e não quer que outros prove desse veneno doce que mata ou ensina.
O futuro é o mesmo que a morte: uma parede invisível que a gente não sabe onde está e, quando se topa com ela, a vida simplesmente se finda.
A Velhice é assim: só existe o hoje, um círio que se desfalece em seu corpo vagarosamente, o fazendo pesar cada dia que passa até o tempo se tornar uma efemeridade imparável.
A juventude é igual, só que, de tamanha ignorância , não vemos a brevidade do caminho que se chama viver.
Rafael Luiz Santos